É amor

Ninguém nos conta qual é a fórmula mágica, o segredo, o remédio. A gente só sabe que é amor. A Bíblia diz que o amor é paciente e bondoso. Que não inveja, não se vangloria e não se orgulha. Que não maltrata e não procura interesses. Que não se ira facilmente e nem guarda rancor. Que ele não se alegra com a injustiça, mas sim com a verdade. Que tudo sofre, tudo crê, tudo espera e que – na minha opinião, a mais bonita definição segundo os cristãos -: tudo suporta.

Einstein, em uma carta para sua filha descreve amor como luz, já que ilumina quem dá e recebe. Como gravidade, porque faz com que as pessoas sejam atraídas umas pelas outras. Como potência, já que multiplica e permite que a humidade não se extinga no egoísmo. Ele diz que o amor revela e desvela e que é por ele, por amor, que vivemos e morremos. O físico ainda diz que o amor é a força que explica tudo e que dá sentido, em maiúscula, à vida.

A verdade é que ainda tem a definição grego, tem a teoria do amor romântico criado pela cultura ocidental, um milhão de filósofos com as suas próprias verdades, estudos até mesmo econômicos, além das definições que chegamos sozinhos, sem leitura alguma, com as nossas experiências, amando, durante toda a vida.  E eu, honestamente, não discordo de nenhuma delas.

Amor é a escolha que a gente faz ao aceitar aquela pessoa como ela é, igual ou diferente da gente, mas como parte da gente. É entregar nosso íntimo, mas sem deixar que o nosso íntimo ainda exista dentro de nós. É ser um, antes de ser dois – e saber disso -, unindo forças. É um ser a mais para ajudar a viver essa loucura do dia a dia. É uma verdade a mais, que não é igual a nossa, mas que escolhemos apoiar, viver e aprender com ela. É caminhar lado a lado, dando o nosso melhor. Ou, às vezes, sem querer, até o nosso pior. Mas, com um só propósito: de evoluir e construir – juntos -, para ser feliz.

Amor é a entrega ao prestar atenção em cada detalhe. E não deixar nenhum passar. Nenhum mesmo. É o primeiro pensamento ao acordar e o último ao ir dormir. É conhecer cada pequena ou grande cicatriz do corpo do outro como a palma da mão: sabendo de onde vieram. E é a ajuda da cura e cicatrização das novas que ainda virão. É o gosto certo do café, fraco ou forte, que a gente sabe de cor e prepara no automático, como se fosse o nosso. É aquela música que toca no rádio, que prende a atenção na lembrança do rosto, da atitude, do abraço, do sorriso e, às vezes, até do choro. É o entendimento daquela frase curta e cansada dita no fim do dia, que não precisa de mais nada, mas, que mesmo se não tivesse sido falada, seria interpretada no olhar. É a bagunça compartilhada. O perrengue de grana, as brigas pela toalha molhada em cima da cama. É “full time job”. E paz. Aquela paz que te dá resiliência e paciência para não deixar a peteca cair e de saber que vem sol, sempre, depois das tempestades.

Amor é a certeza de que é ali que você está porque quer. Só por isso. Porque escolheu aquele colo, aquele abraço, aquele afago. Aquele beijo, aquele corpo. É a certeza de que a luta diária vale a pena. Que é pela alegria daquela pessoa que você está disposto a acordar todos os dias e a não pisar na bola. E mesmo que pise, é por aquela alegria que você se esforça para ser uma pessoa boa. É o não julgamento e a vivência daquele outro “eu” que você compartilha a vida. Se imaginando naquela pele, com aquelas feridas, nas coisas que tanto vibram. É entender que se for para haver discórdia, tudo bem. É aprendizado.

Por fim, é gratidão. Gratidão por ter alguém na vida que a gente é tão certo de que vale a pena a caminhada, seja ela fácil ou complicada. Porque nada é conto de fadas. Só quem tá ali sabe. É um jeito único de fazer morada em dois corações.

Eu ouvi dizer por aí que quando a gente encontra isso, a gente agarra. Agarra com força e não deixa ir embora. Ou foge com ele, pra bem longe, porque o mundo é grande demais para ser experenciado sozinho.

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